quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

CHUVA Federico Garcia Lorca

RAIN- Ryuichi Sakamoto
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SE AS MINHAS MÃOS PUDESSEM DESFOLHAR

Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então alguma vez? 
Que culpa tem meu coração?
Se a névoa se esfuma, 
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem desfolhar a lua!!
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FEDERICO GARCÍA LORCA -[ Espanha - Granada  05/06/1898 - 19/08/1936]
Há coisas encerradas dentro dos muros que, se saíssem de repente para a rua e gritassem, encheriam o mundo.
Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas. 
Federico Garcia Lorca declama seu último poema perante um pelotão de fuzilamento na Espanha.
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CHUVA

A chuva tem um vago segredo de ternura,
algo de sonolência resignada e amável,
uma música humilde se desperta com ela
que faz vibrar a alma adormecida na paisagem.

É um beijar azul que recebe a Terra,
o mito primitivo que torna a realizar-se.
O contato já frio de céu e terra velhos
com uma mansidão de entardecer constante.

É a aurora do fruto. A que nos traz as flores
e nos unge do sagrado espírito dos mares.
A que derrama vida sobre as sementeiras
e na alma tristeza do que não se sabe.

A nostalgia terrível de uma vida perdida,
o fatal sentimento de ter nascido tarde,
ou a ilusão inquieta de uma manhã impossível
com a inquietude quase da cor da carne.

O amor se desperta por gris de seu ritmo,
nosso céu interior tem um triunfo de sangue,
mas nosso otimismo converte-se em tristeza
ao contemplar as gotas mortas nos cristais.

E são as gotas: olhos de infinito que fitam
o infinito branco que lhes serviu de mãe.

Cada gota de chuva treme no cristal turvo
e lhe deixam divinas feridas de diamante.
São poetas da água que viram e que meditam
o que a multidão dos rios não sabe.

Oh! chuva silenciosa, sem tormentas nem ventos,
chuva mansa e serena de sineta e luz suave,
chuva boa e pacífica que és, a verdadeira,
a que amorosa e triste por sobre as coisas cais.

Oh! chuva franciscana que levas as tuas gotas
almas de fontes claras e humildes mananciais.
Quando sobre os campos desces lentamente
as rosas de meu peito com teus sons abres.

O canto primitivo que dizes ao silêncio
e a história sonora que contas à ramagem,
comenta-os chorando meu coração deserto
em um negro e profundo pentagrama sem clave.

Minh'alma tem tristeza de chuva serena,
tristeza designada de coisa irrealizável,
tenho no horizonte um luzeiro aceso
e o coração me impede que corra a contemplá-lo.

Oh! chuva silenciosa que as árvores amam
e és sobre a planície doçura emocionante;
dás à alma as mesmas névoas e ressonâncias
que pões na alma adormecida da paisagem.
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Sergio Cammariere - E mi troverai
Sito Web Ufficiale
http://www.sergiocammariere.com/

Ghismonda-Bernardino Mei - Italian, 1612 - 1676

Enquanto o tempo do mundo passa, o tempo da vida se acaba.
O mundo está cheio de especialistas e pouca gente para conversar sobre a vida.
Muito vazio sendo obrigado ser feliz.
Cuido muito bem dos meus defeitos, sem eles me desmorono.

Gente exigente demais é a própria contradição.
O quê elas tem a oferecer?
Gente perfeita demais é mal amada, que aprendeu a ser muito chata.
Gosto de tomar banho de chuva, de gente de cara lavada, as que sabem lavar a alma.

Se ficar 24 horas online, procure um psicólogo.
A terapia nos faz encontrar a outra metade de nós mesmos.
Sou o que faço do que fazem de mim.

Posso me perder até com GPS.
Mas, eu não procuro, um belo dia é a gente que se encontra.
Será o dia em que alguém amará os defeitos para saber admirar as qualidades.
Somente as pessoas éticas são amigas e são alianças em relações saudáveis.

O restante é o resto.
É quem precisa de resto para ser feliz?
Se a batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão.
Ao vencedor às batatas, porque gente feliz não enche a sacola de ninguém.

Quanto mais cresço, menos quero ser igual a todo mundo.
Aprendendo a falar e repetir-se sobre coisas iguais.
Vidas se copiando para serem a melhor cópia entre outras,
nas mesmas roupas, em fantasias de vidas iguais.
Gente plana, homogênea, supérflua, medrosa de diversidade.

O amor é mergulho profundo, não serve ao medo de gente rasa.
Sofrem do vazio da vida que não vivem, pela vida que se deixam copiar.
Quanto mais cresço, escolho ser mais pequeno, morrendo na criança que me vi nascer.
Só o essencial me basta e a vida não terá sido uma cópia tão banal.